De
todos os instrumentos da orquestra o trombone foi o primeiro a adquirir a
forma que tem hoje. Um relato de festividades em Florença, em 1459,
refere que um saltarello foi tocado em pífaros e um trombone. Representações
de dois quadros da mesma época provam que se tratava efectivamente
de um trombone. Pôr tanto, o trombone apareceu em meados do séc.
XV, derivado de modelos graves da trompete pela adição de uma
vara deslizante em forma de U. Os exemplares mais antigos preservados até
hoje datem de 1551.
Trombone
derivado de trompa (que significa trompete, em italiano) através da
adição do sufixo aumentativo one; trombone é portanto,
etimologicamente, grande trompete. Nos primeiros tempos além de trombone
usa-se também (a partir de 1466) o nome sacabuxa, frequentemente sob
a designação trompette saqueboute ( literalmente "puxa
a ponta"), em inglês abreviada para sackbut.
Os
trombones primitivos tinham campanas em forma de funil, o que se manteve até
ao séc. XVIII, altura em que se alargaram mais . Também as paredes
do tubo eram mais finas nos trombones mais antigos. Mas o mecanismo da vara
deslizante hoje usado é o mesmo desde o séc. XV.
No
fim do séc. XVI eram construídos trombones em três tamanhos:
o alto em Fá2 (em Si1 com a vara toda distendida), o tenor em Si b
(em Mi, vara distendida) e o baixo em Mi b, (que atingia o Lá). Deste
modo, os três modelos formavam uma escala contínua.
Desde
essa altura o trombone tenor é o instrumento-tipo, e qualquer referencia
ao trombone sem especificar o modelo refere-se a ele. Desde princípios
do séc. XVII há tentativas para construir o modelo contrabaixo,
mas tanto este como soprano caíram em desuso, ficando apenas o trio
formado pêlos modelos alto, tenor e baixo.
Durante
o séc. XIX há tendência para os modelos alto e baixo desaparecerem,
mas este abandono é apenas transitório, porque em 1840, na Sinfonia
Fúnebre e Triunfal, Berlioz usa os três modelos, e vinte anos
mais tarde Wagner junta-lhes o já referido trombone contrabaixo.
Durante
o séc. XIX as principais inovações para trombone forem
o aparecimento da vara dupla e a aplicação dos pistões.
A vara dupla é de certo modo uma reivenção, uma vez que
existe um trombone de vara dupla datado de 1612, feito pôr Josbst Schnitzer,
de Nuremberga (que faz parte da coleção de instrumentos da universidade
de Leipzig.).
A
aplicação de pistões só resultou parcialmente
no caso do trombone. O timbre de pistões é de menor qualidade
que o do trombone de varas, e hoje praticamente só se usa nas bandas.
Além
destas inovações surgiram algumas tentativas de criar novos
tipos de trombone, hoje meras curiosidades de museu. É o caso do trombone
saxomnitonique, criado pôr Adolphe Sax em 1850. Munido de 6 pistões
e 7 pavilhões separados este trombone reunia sete instrumentos num
só!
Rimsky-Korsakov
inventou um trombone de pistões com forma e embocadura de trompete
(a trompa contralta em Fá) que usou na sua ópera-ballet Mlada.
Repertório
O
seu mecanismo de vara deslizante torna o trombone muito mais versátil
que as trompetes e trompas naturais; na realidade estas, estando limitadas
a alguns sons harmônicos, eram usadas essencialmente em fanfarras e
toques militares, enquanto que os trombones, podendo emitir sons cromaticamente,
tinham muito mais possibilidades musicais.
Assim,
o trombone foi usado durante o séc. XV na execução do
tenor em motetes isorítmicos, bem como nas missas. Pôr outro
lado era freqüente o seu uso em música de ar livre, tocado juntamente
com charamelas e bombardas.
Note-se
que uma vez que o trombone praticamente não se modificou desde o séc.
XV, a música anterior ao período clássico pode com toda
a legitimidade ser tocada em instrumentos modernos.
Durante
os séculos XVII e XVIII o trombone era usado sobretudo como suporte
para as vozes, mas também em certas passagens operáticas solenes,
como na Flauta Mágica e no Don Giovanni de Mozart. Antes de Mozart
alguns compositores usaram-no em partes importantes: Cláudio Monteverdi
no Orfeo (4 trombones), Marc Antonio Cesti em Il Pomo dÓro, Heinrich
Schütz nas Synphoniae Sacrae e Gabrieli em várias canzone e sonate.
Christoph Willibald Gluck faz um uso considerável do trombone na ária
"Divinité du Stix" da ópera Alceste (1767) e em Iphigéne
en Tauride (1779). Bach e Haendel escreveram ocasionalmente para trombone,
mas quase sempre usando-o a dobrar vozes a uníssono, para obter maior
sonoridade.
Só
após o uso revolucionário do trombone pôr Beethoven na
sua 5ª Sinfonia, e sobretudo com Berlioz e Wagner, pôr volta de
1850, é que o trombone se torna membro permanente da orquestra sinfônica.
O
uso poético que Franz Schubert faz do trombone na Sinfonia em Dó
M foi muito invulgar para a época, porque durante grande parte do séc.
XIX o trombone foi aplicado sobretudo para produzir uma harmonia solene, ou
então em curtas passagens em quese exigia a máxima potência
sonora.
O
uso mais melódico do instrumento tem-se dado sobretudo no séc.
XX. A técnica de execução e, conseqüentemente, a
literatura para trombone têm sido influenciadas pelo aparecimento de
extraordinários executantes do instrumento, com grande leveza na execução
melódica e grande agilidade no registro grave. Também a música
de jazz, com os seus efeitos e sonoridades próprios, tem contribuído
para o alargamento da paleta sonora do instrumento.
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