terça-feira, 29 de maio de 2012

Flauta transversal


flauta transversal 



A flauta existe desde a Idade da Pedra, sendo dos instrumentos mais antigos usados pelo Homem. Além disso, encontra-se em praticamente todas as culturas. Assim, torna-se impossível traçar a história, ainda que resumida, da flauta nas suas múltiplas formas, pelo que nos iremos restringir à evolução recente da flauta transversa.

ALGUNS DADOS HISTÓRICOS

A flauta transversa, à semelhança de muitos outros instrumentos, chegou à Europa no tempo do Império Bizantino.

Segundo David Munrow a flauta transversa pode ser encarada como a racionalização do princípio da flauta de Pã (ou siringe), sendo a sua expansão mais ou menos paralela ao declínio desta.

Durante a Idade Média a flauta transversa foi usada sobretudo como instrumento militar na Suiça e na Alemanha. Daí de expandiu para outros países sob o nome flûte allemande e Schweizerpfeife.

FLAUTA RENASCENTISTA

A flauta renascentista tinha tubo cilíndrico, com 6 orifícios para os dedos e 1 orifício circular muito pequeno (à volta de 6 ou 7 mm) como embocadura. Feita de uma única peça, tinha o grande inconveniente de não poder ser afinada.

Várias fontes indicam que o consort de flautas era constituído por três modelos, afinados a intervalos de quinta: soprano (em Lá), tenor (em Ré) e baixo (em Sol), todos com a extensão de duas oitavas. O baixo era por vezes feito em duas partes.

Todos os tamanhos eram feitos de buxo, material preferido na época para todas as madeiras, por ter as fibras muito juntas e uma massa específica muito elevada, permitindo ainda um excelente trabalho de torno. Ocasionalmente, o modelo soprano era também feito em vidro. Ainda no século XIX dois construtores franceses eram conhecidos pelas suas flautas e flautins em cristal!

A FLAUTA BARROCA

A partir de 1650 dão-se modificações muito importantes: a flauta passa a ser feita em 3 partes, introduzindo-se um novo orifício que é agora tapado por uma chave, controlada pelo dedo mínimo da mão direita. Segundo Johann Joachim Quantz estas inovações foram de origem francesa.

Por volta de 1680, provavelmente por acção da família Hotteterre (família francesa de construtores de instrumentos de sopro e sanfonas), o perfil do tubo é alterado: a cabeça permanece cilíndrica, mas as outras duas partes passam a ser cónicas invertidas (com um ligeiro alargamento na parte final). Este perfil apresentava diversas vantagens:

- O som produzido era mais doce.

- A quantidade de ar necessária era menor.

- A afinação, sobretudo no extremo agudo, era mais fácil.

- O tubo não tinha de ser tão longo e, por isso, os orifícios podiam estar mais próximos, ficando os dedos numa posição mais cómoda.

Esta flauta era por vezes feita em marfim, mas o normal era ser em buxo com anéis de marfim. Manteve-se em uso durante mais de um século, embora de passasse a fazer em 4 partes, com o corpo médio dividido em 2, o que permitia ao construtor determinar com muito mais rigor a forma interna do tubo.

Relativamente ao século XVII não existe documentação suficiente para se poder afirmar quem foram os responsáveis pelas modificações apontadas. No entanto, sabe-se que tiveram origem num círculo de construtores parisienses ligados à corte de Luís XIV e liderados por Jacques Hotteterre.

Em 1707 Jacques Hottetere publica em Paris a obra Principes de la Flûte Traversière, na qual ilustra a flauta transversa em 3 secções.

No início do século XVIII o diapasão era extremamente variável, por vezes até de localidade para localidade. Por isso usava-se na flauta transversa um sistema de corps de rechange – conjuntos de corpos alternativos, afinados a diapasões ligeiramente diferentes, que substituíam a parte da flauta imediatamente a seguir à embocadura.

Em 1752 aparece o célebre Versuch einer Anweisung die Flöte Traversiere zu spielen (“Ensaio sobre um Método para Tocar a Flauta Transversa”) de Johann Joachim Quantz (importante compositor e flautista), obra fundamental para o conhecimento não só da história da flauta na primeira metade do século XVIII como também da estética e da prática musical da época, em geral. Quantz atribui a si próprio a invenção de uma junta deslizante que, variando o comprimento da flauta, permitia a afinação em diferentes diapasões, substituindo o complicado sistema de corps de rechange.
A APLICAÇÃO DE NOVAS CHAVES

Praticamente toda a música para a flauta transversa escrita durante o século XVIII, como é o caso dos concertos de Mozart (1778) era executada na flauta de uma chave, de excelente sonoridade, mas criando dificuldades nas dedilhações e afinação em certas tonalidades.

Estes problemas levaram ao aparecimento de 3 novas chaves: para o Fá natural (que era sempre muito alto), o Sol sustenido e o Si bemol. Surge assim a flauta de 4 chaves. Simultaneamente aumenta-se o comprimento do tubo e juntam-se 2 novas chaves para obter o Dó sustenido e o Dó graves. Esta inovação só se deve ter vulgarizado a partir de 1770 aproximadamente, sendo atacada por músicos como Quantz (para quem ela arruinava o som da flauta). Mozart utiliza estas duas notas nalgumas peças.

Assim surge a flauta de 6 chaves, que tem já uma considerável liberdade de modulação e permite tocar em qualquer tonalidade, apresentando menos problemas de afinação que os modelos anteriores.
A FLAUTA BOEHM

No início do século XIX surgem grandes virtuosos da flauta, cujos concertos tinham grande sucesso, dando a este instrumento grande popularidade: é o caso de Drouet, Furstenau, Nicholson e Tulou.

Segundo Anthony Baines, Charles Nicholson (m. 1837) foi o maior flautista que a Inglaterra jamais conheceu. Em Londres, no período entre 1820 e 1830, Nicholson tentou melhorar e corrigir a flauta fazendo orifícios maiores; em 1831 Theobald Boehm (construtor de flautas alemão e flautista profissional) ouviu-o tocar nessa flauta, ficando impressionado com a sua sonoridade.

A partir daqui Boehm repensou completamente a flauta em todos os seus aspectos: perfil do tubo, número, colocação e tamanho dos orifícios, etc.. Ao fim de um ano de longas experiências, surge então a flauta Boehm, em que:

- Os orifícios são tão largos quanto possível.

- Os orifícios são praticados nos locais acusticamente correctos, independentemente de ser ou não possível a mão humana atingi-los.

- Há um complexo sistema de chaves para tapar todos os orifícios através do qual a acção de um só dedo pode fazer com que sejam tapados vários orifícios.

- Uns orifícios são controlados por chaves em forma de anel (directamente tapadas pelo dedo), outros são completamente vedados por uma sapatilha, mas quando o executante não actua sobre elas todas as chaves estão abertas (excepto a de Sol #).

- O tubo é em metal (embora mais tarde se volte por vezes a usar a madeira), o que aumenta a sonoridade e a torna mais “clara”.

A nova flauta foi apresentada à Academia das Ciências em 1837, tendo obtido um relatório muito favorável e sendo adoptada logo a partir de 1838 por J.-B. Coche, professor no Conservatório de Paris.

Os primeiros modelos de Boehm são ainda ligeiramente cónicos, mas em 1847 ele apresentou o seu modelo de perfil cilíndrico, dando à cabeça uma forma de curva parabólica muito suave.

O êxito desta flauta foi enorme, tendo suplantado todos os outros sistemas. Foi também adoptado ou inspirou alterações na mecânica das outras madeiras.

Hoje, em qualquer parte do mundo, a flauta que se usa é a flauta Boehm, quer seja feita de madeira quer de metal.

              Renova-me - Flauta Transversal


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