quarta-feira, 30 de maio de 2012

Trombone

trombone
De todos os instrumentos da orquestra o trombone foi o primeiro a adquirir a forma que tem hoje. Um relato de festividades em Florença, em 1459, refere que um saltarello foi tocado em pífaros e um trombone. Representações de dois quadros da mesma época provam que se tratava efectivamente de um trombone. Pôr tanto, o trombone apareceu em meados do séc. XV, derivado de modelos graves da trompete pela adição de uma vara deslizante em forma de U. Os exemplares mais antigos preservados até hoje datem de 1551.
Trombone derivado de trompa (que significa trompete, em italiano) através da adição do sufixo aumentativo one; trombone é portanto, etimologicamente, grande trompete. Nos primeiros tempos além de trombone usa-se também (a partir de 1466) o nome sacabuxa, frequentemente sob a designação trompette saqueboute ( literalmente "puxa a ponta"), em inglês abreviada para sackbut.
Os trombones primitivos tinham campanas em forma de funil, o que se manteve até ao séc. XVIII, altura em que se alargaram mais . Também as paredes do tubo eram mais finas nos trombones mais antigos. Mas o mecanismo da vara deslizante hoje usado é o mesmo desde o séc. XV.
No fim do séc. XVI eram construídos trombones em três tamanhos: o alto em Fá2 (em Si1 com a vara toda distendida), o tenor em Si b (em Mi, vara distendida) e o baixo em Mi b, (que atingia o Lá). Deste modo, os três modelos formavam uma escala contínua.
Desde essa altura o trombone tenor é o instrumento-tipo, e qualquer referencia ao trombone sem especificar o modelo refere-se a ele. Desde princípios do séc. XVII há tentativas para construir o modelo contrabaixo, mas tanto este como soprano caíram em desuso, ficando apenas o trio formado pêlos modelos alto, tenor e baixo.
Durante o séc. XIX há tendência para os modelos alto e baixo desaparecerem, mas este abandono é apenas transitório, porque em 1840, na Sinfonia Fúnebre e Triunfal, Berlioz usa os três modelos, e vinte anos mais tarde Wagner junta-lhes o já referido trombone contrabaixo.
Durante o séc. XIX as principais inovações para trombone forem o aparecimento da vara dupla e a aplicação dos pistões. A vara dupla é de certo modo uma reivenção, uma vez que existe um trombone de vara dupla datado de 1612, feito pôr Josbst Schnitzer, de Nuremberga (que faz parte da coleção de instrumentos da universidade de Leipzig.).
A aplicação de pistões só resultou parcialmente no caso do trombone. O timbre de pistões é de menor qualidade que o do trombone de varas, e hoje praticamente só se usa nas bandas.
Além destas inovações surgiram algumas tentativas de criar novos tipos de trombone, hoje meras curiosidades de museu. É o caso do trombone saxomnitonique, criado pôr Adolphe Sax em 1850. Munido de 6 pistões e 7 pavilhões separados este trombone reunia sete instrumentos num só!
Rimsky-Korsakov inventou um trombone de pistões com forma e embocadura de trompete (a trompa contralta em Fá) que usou na sua ópera-ballet Mlada.

Repertório

O seu mecanismo de vara deslizante torna o trombone muito mais versátil que as trompetes e trompas naturais; na realidade estas, estando limitadas a alguns sons harmônicos, eram usadas essencialmente em fanfarras e toques militares, enquanto que os trombones, podendo emitir sons cromaticamente, tinham muito mais possibilidades musicais.
Assim, o trombone foi usado durante o séc. XV na execução do tenor em motetes isorítmicos, bem como nas missas. Pôr outro lado era freqüente o seu uso em música de ar livre, tocado juntamente com charamelas e bombardas.
Note-se que uma vez que o trombone praticamente não se modificou desde o séc. XV, a música anterior ao período clássico pode com toda a legitimidade ser tocada em instrumentos modernos.
Durante os séculos XVII e XVIII o trombone era usado sobretudo como suporte para as vozes, mas também em certas passagens operáticas solenes, como na Flauta Mágica e no Don Giovanni de Mozart. Antes de Mozart alguns compositores usaram-no em partes importantes: Cláudio Monteverdi no Orfeo (4 trombones), Marc Antonio Cesti em Il Pomo dÓro, Heinrich Schütz nas Synphoniae Sacrae e Gabrieli em várias canzone e sonate. Christoph Willibald Gluck faz um uso considerável do trombone na ária "Divinité du Stix" da ópera Alceste (1767) e em Iphigéne en Tauride (1779). Bach e Haendel escreveram ocasionalmente para trombone, mas quase sempre usando-o a dobrar vozes a uníssono, para obter maior sonoridade.
Só após o uso revolucionário do trombone pôr Beethoven na sua 5ª Sinfonia, e sobretudo com Berlioz e Wagner, pôr volta de 1850, é que o trombone se torna membro permanente da orquestra sinfônica.
O uso poético que Franz Schubert faz do trombone na Sinfonia em Dó M foi muito invulgar para a época, porque durante grande parte do séc. XIX o trombone foi aplicado sobretudo para produzir uma harmonia solene, ou então em curtas passagens em quese exigia a máxima potência sonora.
O uso mais melódico do instrumento tem-se dado sobretudo no séc. XX. A técnica de execução e, conseqüentemente, a literatura para trombone têm sido influenciadas pelo aparecimento de extraordinários executantes do instrumento, com grande leveza na execução melódica e grande agilidade no registro grave. Também a música de jazz, com os seus efeitos e sonoridades próprios, tem contribuído para o alargamento da paleta sonora do instrumento.

Trompete

trompete
Dos instrumentos musicais depois da voz humana, pode-se dizer que o trompete é um dos instrumentos mais antigos. Se olharmos na sua historia e construção verá que ele nasceu como um instrumento de chamada, utilizados por pastores para conduzir o rebanho ou em tempos mais antigos utilizado para assustar animais pré-históricos. Nessa época ele não tinha afinação ou escala, apenas era um pedaço de chifre que se produzia um som. Depois no período do metal, os romanos e outros povos construíram-no de metal para ser utilizado em guerras. Seus timbres e ataques davam os comandos para o exercito atacar ou não o inimigo.
PocketO trompete só começou a evoluir e a ser utilizado na musica no século XV, no período do renascimento como ainda não tinha uma técnica aprimorada na época, era apenas utilizado para algumas notas e marcações (mais detalhes ver História da Musica).
Mais tarde com a ajuda que Bach deu a musica na época barroca, ajudou o trompete a evoluir também. Esse período foi o inicio da utilização do trompete na musica, pois agora ele tem notas e oitavas, podendo assim ser utilizado para a musica da época.
No período clássico, o trompete não teve tantos avanços como teve a linguagem musical, fazendo assim o trompete voltar a ser apenas um instrumento harmônico e de reforço rítmico. O concerto de Haydn não foi escrito para trompete, mas sim para cornet da época.
Mas só em 1815, um trompista alemão chamado Heinrich Stölzel, criou o sistema de válvulas para instrumentos de metal, e em 1939 o francês Périnet patentiou um sistema de válvulas chamado de “gros piston” que é a origem das válvulas que utilizamos hoje no trompete. Daí pra frente o trompete teve seu lugar na musica, pois com esse sistema de válvulas ele ficou completamente cromático.
Depois disso, o trompete ganhou também válvulas para afinação do instrumento e de novas individuais.
Depois dessa evolução, as industrias de instrumentos não pararam por ai, com o jazz e as orquestras, eles criaram outras variações de trompete tais como: Cornet, Picollo, Flugue Horn entre outros.
Não podemos esquecer dos músicos que criaram técnicas e fizeram com que o trompete chega-se ao que é hoje. Músicos incríveis como: Jonh Baptista Arban, King Oliver, Dizie Dilespy, Duke Ellighton, Louis Armstrong, Arturo Sandoval e Winton Marsalis (exemplo a ouvir: Variações sobre Carnaval de Veneza).
Informações sobre Bocais
Trompete laqueadoBorda - Um contorno chato tende a segurar os lábios no lugar, por isso bordas com um contorno mais arredondado permitem maior flexibilidade que os de contorno chato. Uma borda mais larga aumenta o conforto e a resistência sobre uma borda mais estreita. Porém uma borda larga oferece menos flexibilidade.
Uma borda que tenha a beirada (bite) mais aguda no lado de dentro fornece articulações mais claras por segurar os lábios no lugar.
Cup - Com o aumento do cup em tamanho, sobrará mais lábio para vibrar o que faz um som com mais volume. A profundidade do cup ajuda a controlar a qualidade do tom. Um formato arredondado produz um som mais brilhante. Quando mais o formato se aproxima de um "V", mais opaco o som se torna.
Backbore - O formato do backbore, tão como seu volume, é muito importante no controle da resistência e da qualidade sonora. Geralmente um backbore mais justo ou menor produz um som mais brilhante enquanto que um backbore mais largo produz um som mais opaco e meloso.
Shank - O tamanho do shank controla quão fundo o bocal se encaixa nos lábios. Na maioria dos instrumentos o bocal não se encaixa contra o fim do bocal, criando assim uma brecha entre o fim e o começo do bocal. Essa brecha é muito importante na medida que ela afeta a resistência e a entonação; uma brecha menor produz menos resistência e vice-versa.



Louis Armstrong - When the Saints Go Marching In, 1961




terça-feira, 29 de maio de 2012

Flauta transversal


flauta transversal 



A flauta existe desde a Idade da Pedra, sendo dos instrumentos mais antigos usados pelo Homem. Além disso, encontra-se em praticamente todas as culturas. Assim, torna-se impossível traçar a história, ainda que resumida, da flauta nas suas múltiplas formas, pelo que nos iremos restringir à evolução recente da flauta transversa.

ALGUNS DADOS HISTÓRICOS

A flauta transversa, à semelhança de muitos outros instrumentos, chegou à Europa no tempo do Império Bizantino.

Segundo David Munrow a flauta transversa pode ser encarada como a racionalização do princípio da flauta de Pã (ou siringe), sendo a sua expansão mais ou menos paralela ao declínio desta.

Durante a Idade Média a flauta transversa foi usada sobretudo como instrumento militar na Suiça e na Alemanha. Daí de expandiu para outros países sob o nome flûte allemande e Schweizerpfeife.

FLAUTA RENASCENTISTA

A flauta renascentista tinha tubo cilíndrico, com 6 orifícios para os dedos e 1 orifício circular muito pequeno (à volta de 6 ou 7 mm) como embocadura. Feita de uma única peça, tinha o grande inconveniente de não poder ser afinada.

Várias fontes indicam que o consort de flautas era constituído por três modelos, afinados a intervalos de quinta: soprano (em Lá), tenor (em Ré) e baixo (em Sol), todos com a extensão de duas oitavas. O baixo era por vezes feito em duas partes.

Todos os tamanhos eram feitos de buxo, material preferido na época para todas as madeiras, por ter as fibras muito juntas e uma massa específica muito elevada, permitindo ainda um excelente trabalho de torno. Ocasionalmente, o modelo soprano era também feito em vidro. Ainda no século XIX dois construtores franceses eram conhecidos pelas suas flautas e flautins em cristal!

A FLAUTA BARROCA

A partir de 1650 dão-se modificações muito importantes: a flauta passa a ser feita em 3 partes, introduzindo-se um novo orifício que é agora tapado por uma chave, controlada pelo dedo mínimo da mão direita. Segundo Johann Joachim Quantz estas inovações foram de origem francesa.

Por volta de 1680, provavelmente por acção da família Hotteterre (família francesa de construtores de instrumentos de sopro e sanfonas), o perfil do tubo é alterado: a cabeça permanece cilíndrica, mas as outras duas partes passam a ser cónicas invertidas (com um ligeiro alargamento na parte final). Este perfil apresentava diversas vantagens:

- O som produzido era mais doce.

- A quantidade de ar necessária era menor.

- A afinação, sobretudo no extremo agudo, era mais fácil.

- O tubo não tinha de ser tão longo e, por isso, os orifícios podiam estar mais próximos, ficando os dedos numa posição mais cómoda.

Esta flauta era por vezes feita em marfim, mas o normal era ser em buxo com anéis de marfim. Manteve-se em uso durante mais de um século, embora de passasse a fazer em 4 partes, com o corpo médio dividido em 2, o que permitia ao construtor determinar com muito mais rigor a forma interna do tubo.

Relativamente ao século XVII não existe documentação suficiente para se poder afirmar quem foram os responsáveis pelas modificações apontadas. No entanto, sabe-se que tiveram origem num círculo de construtores parisienses ligados à corte de Luís XIV e liderados por Jacques Hotteterre.

Em 1707 Jacques Hottetere publica em Paris a obra Principes de la Flûte Traversière, na qual ilustra a flauta transversa em 3 secções.

No início do século XVIII o diapasão era extremamente variável, por vezes até de localidade para localidade. Por isso usava-se na flauta transversa um sistema de corps de rechange – conjuntos de corpos alternativos, afinados a diapasões ligeiramente diferentes, que substituíam a parte da flauta imediatamente a seguir à embocadura.

Em 1752 aparece o célebre Versuch einer Anweisung die Flöte Traversiere zu spielen (“Ensaio sobre um Método para Tocar a Flauta Transversa”) de Johann Joachim Quantz (importante compositor e flautista), obra fundamental para o conhecimento não só da história da flauta na primeira metade do século XVIII como também da estética e da prática musical da época, em geral. Quantz atribui a si próprio a invenção de uma junta deslizante que, variando o comprimento da flauta, permitia a afinação em diferentes diapasões, substituindo o complicado sistema de corps de rechange.
A APLICAÇÃO DE NOVAS CHAVES

Praticamente toda a música para a flauta transversa escrita durante o século XVIII, como é o caso dos concertos de Mozart (1778) era executada na flauta de uma chave, de excelente sonoridade, mas criando dificuldades nas dedilhações e afinação em certas tonalidades.

Estes problemas levaram ao aparecimento de 3 novas chaves: para o Fá natural (que era sempre muito alto), o Sol sustenido e o Si bemol. Surge assim a flauta de 4 chaves. Simultaneamente aumenta-se o comprimento do tubo e juntam-se 2 novas chaves para obter o Dó sustenido e o Dó graves. Esta inovação só se deve ter vulgarizado a partir de 1770 aproximadamente, sendo atacada por músicos como Quantz (para quem ela arruinava o som da flauta). Mozart utiliza estas duas notas nalgumas peças.

Assim surge a flauta de 6 chaves, que tem já uma considerável liberdade de modulação e permite tocar em qualquer tonalidade, apresentando menos problemas de afinação que os modelos anteriores.
A FLAUTA BOEHM

No início do século XIX surgem grandes virtuosos da flauta, cujos concertos tinham grande sucesso, dando a este instrumento grande popularidade: é o caso de Drouet, Furstenau, Nicholson e Tulou.

Segundo Anthony Baines, Charles Nicholson (m. 1837) foi o maior flautista que a Inglaterra jamais conheceu. Em Londres, no período entre 1820 e 1830, Nicholson tentou melhorar e corrigir a flauta fazendo orifícios maiores; em 1831 Theobald Boehm (construtor de flautas alemão e flautista profissional) ouviu-o tocar nessa flauta, ficando impressionado com a sua sonoridade.

A partir daqui Boehm repensou completamente a flauta em todos os seus aspectos: perfil do tubo, número, colocação e tamanho dos orifícios, etc.. Ao fim de um ano de longas experiências, surge então a flauta Boehm, em que:

- Os orifícios são tão largos quanto possível.

- Os orifícios são praticados nos locais acusticamente correctos, independentemente de ser ou não possível a mão humana atingi-los.

- Há um complexo sistema de chaves para tapar todos os orifícios através do qual a acção de um só dedo pode fazer com que sejam tapados vários orifícios.

- Uns orifícios são controlados por chaves em forma de anel (directamente tapadas pelo dedo), outros são completamente vedados por uma sapatilha, mas quando o executante não actua sobre elas todas as chaves estão abertas (excepto a de Sol #).

- O tubo é em metal (embora mais tarde se volte por vezes a usar a madeira), o que aumenta a sonoridade e a torna mais “clara”.

A nova flauta foi apresentada à Academia das Ciências em 1837, tendo obtido um relatório muito favorável e sendo adoptada logo a partir de 1838 por J.-B. Coche, professor no Conservatório de Paris.

Os primeiros modelos de Boehm são ainda ligeiramente cónicos, mas em 1847 ele apresentou o seu modelo de perfil cilíndrico, dando à cabeça uma forma de curva parabólica muito suave.

O êxito desta flauta foi enorme, tendo suplantado todos os outros sistemas. Foi também adoptado ou inspirou alterações na mecânica das outras madeiras.

Hoje, em qualquer parte do mundo, a flauta que se usa é a flauta Boehm, quer seja feita de madeira quer de metal.

              Renova-me - Flauta Transversal


Clarinete

clarinete
Podemos buscar a origem do instrumento no antigo Egipto, onde tocavam um instrumento chamado memet, que tinha uma palheta cortada no próprio tubo. Este tipo de instrumento, é chamado de instrumento idioglótico. Outros instrumentos ancestrais, podem ser o aulos grego, o cuen kan chinês, o arghul árabe e o pibgorn galês. Todos estes instrumentos tinham palheta simples, e um ou dois tubos. O chalumeau, é outro instrumento de palheta simples, que segundo alguns investigadores, era tocado a 200 anos atrás, mas outros defendem que foi desenvolvido na Idade Média. A diferença mais importante entre o antigo chalumeau e os primeiros clarinetes, foi a chave de registo, que aumentou consideravelmente a extensão do instrumento, soando mais agudo, fazendo lembrar uma trompete. Desta similitude, nasceu o seu nome, pois deriva da palavra italiana para o trompete, clarino, que deu pequeno clarino, ou clarinetto. Admite-se que a invenção da chave de registo é da responsabilidade do alemão Johann Christian Denner, ou dos seus filhos, pois a primeira menção ao instrumento aparece em 1710, 3 anos depois da morte deste senhor. Por volta de 1800, o clarinete tem já 5 ou 6 chaves. Em 1812, o clarinetista Iwan Muller, construiu um clarinete com 13 chaves, suficiente para tocar em qualquer tonalidade com fluência. Também foi o primeiro a usar a virar a boquilha para baixo, e por conseguinte, a palheta em contacto com o lábio inferior, além de usar uma liga metálica para a construção de certas partes do instrumento. Meio século depois, Carl Barmann, adicionou mais 5 ou6 chaves, e 50 anos depois, Oskar Oehler usou o modelo de Barmann, para construir o seu próprio instrumento, que muitos clarinetistas profissionais alemães, ainda usam actualmente. Melhoramentos no clarinete de Muller, foram feitos na Bélgica por Eugène Albert, Adolfe Sax, que além de se ocupar com os clarinetes, inventou por volta de 1840, o sax-o-phone. Pela mesma altura, em França, Hyacinthe Klosé e Louis Auguste Buffet, trabalhavam iguakmente no clarinete. Aproveitaram algumas ideias de Theobal Boehm, inventor da flauta moderna, aplicando-as ao clarinete. De lá para cá, muito pouco mudou no instrumento.
A família do clarinete – consiste no imediato em pelo menos 13 instrumentos em diversas tonalidades. Este instrumento, aparece em vários tamanhos. O mais popular é o clarinete soprano em sib, seguido do clarinete soprano em lá. Existem também clarinetes soprano mais pequenos em dó, ré e mib. Como o clarinete em mib é bastante pequeno, normalmente, vem num corpo só, sem junção superior e inferior. Existem ainda clarinetes mais pequenos, encontrados em bandas na Europa, incluindo o clarinete sopranino em mi e láb. Todos os outros clarinetes soam mais grave. Um exemplo é o clarinete basset, que é na realidade um clarinete extra longo do clarinete soprano em lá. Isto significa que a nota mais grave é o dó em vez do mi. O famoso concerto para clarinete de Mozart, foi em realidade escrito para este instrumento, conhecido como clarinete Mozart. O clarinete em fá, é quase como o clarinete alto em mib. Existe ainda o clarinete contralto, que soa uma oitava abaixo do clarinete alto, e clarinete contrabaixo, que soa uma oitava inferior do clarinete baixo. Os clarinetes mais pequenos e os maiores que o clarinete soprano, são chamados colectivamente de clarinetes de harmonia, pois nas orquestras, são usados para fazer as harmonias que acompanham as melodias ou os solistas. Existem ainda clarinetes menos comuns, como por exemplo o clarinete soprano em metal afinado em sol, e usado na música turca e grega. Vários países e regiões possuem os seus próprios modelos de clarinetes. O importante a reter, é que todos são instrumentos de palheta simples, embora o seu número de chaves e buracos pode variar, como é o caso de um clarinete em madeira húngaro, chamado tárogató.
Instrumentos de sopro – o clarinete pertence à família das madeiras, como outros instrumentos que passaremos a referir seguidamente: o saxofone, que será o instrumento mais próximo do clarinete, em especial semelhanças na boquilha e na própria mecânica. A maior diferença entre os dois instrumentos, é que o saxofone é inteiramente cónico desde a boquilha à campânula. Se abrirmos o registo no saxofone, a nota soará uma oitava acima, ao contrário do clarinete, que quando se abre o registo, soará uma 12ª acima. Outro instrumento da família, é a flauta, que apresenta muitas semelhanças a nível do mecanismo, que como já foi dito, usa em ambos os casos o sistema Boehm, inventado para a flauta. Falamos agora do oboé e do fagote: tem tubo cónico como o saxofone, mas é feito em madeira como o clarinete. No entanto soa muito diferente, pois usa uma palheta dupla, onde o som é produzido, pela vibração das palhetas uma contra a outra.
Para terminar, é de referir que o clarinete comporta-se como um tubo fechado, o que em termos acústicos implica que ao accionar a chave de oitava, o som produzido vibrará 3 vezes mais rápido que o som sem o registo. Por outras palavras, o clarinete só produzirá harmónicos ímpares, ao contrário dos outros instrumentos que se comportam como tubos abertos, ou por terem tubos cónicos ou por serem abertos em ambas as extremidades.
Marcas – comparada com fabricantes de violinos e guitarras, o número de fabricantes de clarinetes é reduzida. As três empresas francesas Buffet-Crampon, Leblanc e Henri Selmer, são as que mais vendem no mundo. Yamaha, construtor japonês, é também uma marca importante a nível mundial.
Existem outras marcas que merecem menção: Amati – companhia chaca, Artley e Selmer dos Estados Unidos, Hanson do Reino Unido, as tailandesas Dixon e Júpiter , Orsi e Ripamonti da Itália, e a chinesa Lark. Estas marcas trabalham mais, na gama mais barata de clarinetes existentes no mercado. Por outro lado, existem pequenos fabricantes, que produzem instrumentos na gama mais cara, como por exemplo as britânicas Eaton e Howarth, a italiana Patricola e a Rossi do Chile, cujos produtos incluem clarinetes em sib fabricados sónuma peça. Existem os fabricantes alemães que fabricam exclusivamente com o sistema alemão como a Bernd Moosman, Richard Keilwerth, Arthur Uebel, Puchner, Schwenk & Seggelke, Schreiber que colabora com a Buffet Crampon e a Hammerschmidt, que também fabrica clarinetes austríacos. A marca alemã mais conhecida é a Herbert Wurlitzer, que fabrica clarinetes muito caros, mas que muitas orquestras de renome exigem que os seus músicos possuam instrumentos desta marca.
Grupos e orquestras – o clarinete é um instrumento muito versátil, que se integra em bandas de instrumentos de sopro, bandas de salão, orquestras sinfónicas, grupos de música de câmara, emsembles só de clarinetes, concertos para solistas, grupos de jazz, música cigana, música folclórica, dixiland, etc.



             Clarinete - Han Kim, Csárdás - 




Saxofone

saxofone


O saxofone foi inventado por Antoine-Joseph (Adolph) Sax. Ele nasceu em Dinant, uma cidade no vale de Meuve na Bélgica, no dia 6 de novembro de 1814. Charles-Joseph Sax, o pai dele, era um carpinteiro que construiu uma fábrica para instrumentos de sopro de madeira e instrumentos de metal. Do pai ele herdou a técnica e criatividade para o comércio. Pouco se sabe sobre sua mãe, exceto que ela vivia muito ocupada cuidando dos onze filhos.
Adolph começou sua educação formal na Royal School of Singing (Bruxelas); lá ele também estudou flauta e clarinete. Dizem que se Sax não tivesse entrado nos negócios da família ele teria feito uma boa carreira como clarinetista profissional.
Charles concentrou suas energias na sua fábrica de instrumentos para ir ganhando a vida, enquanto Adolph ia experimentando novos designs com a finalidade de criar novos instrumentos. Sax termina, em 1834, o aperfeiçoamento do clarinete-baixo (clarone); talvez daí viesse a idéia de fabricar um novo instrumento, pois o formato do clarone e o do saxofone são bem semelhantes, com a diferença de que o corpo do clarone é mais alongado e feito de madeira e, principalmente, por pertencer à família do clarinete; mas o primeiro saxofone nasceu quando Sax adaptou uma palheta de um clarinete ao bocal de um oficlide (um predecessor da tuba, só que em forma de "U", como o fagote). O resultado foi um saxofone-baixo; a partir deste, Sax criou o restante da família. O Saxofone é um dos poucos instrumentos que foram "inventados".
Historiadores estão de acordo que Adolph Sax projetou e construiu o saxofone por volta de 1840. O esboço básico deste instrumento nunca mudou, embora muitos aperfeiçoamentos tenham sido feitos. Dessa incrível habilidade criativa nasceram o Sax Horn (uma espécie de tuba) e os saxofones.
Quando Adolph completou 25 anos, ele foi atraído pelo encanto de Paris, e se mudou para lá. Enquanto estava em Paris, ele conheceu muitos músicos notáveis inclusive Meyerbeer e Berlioz. Contudo ele foi obrigado a se mudar para Bruxelas por razões econômicas.
Depois de um período de tragédia familiar onde o Charles viu oito dos seus filhos morrerem, pai e filho se dedicaram exclusivamente ao trabalho, entorpecendo a dor da perda. Porém, a viagem a Paris teve um efeito duradouro em Adolphe e ele não pôde esperar pela oportunidade de voltar. Ele recebeu várias ofertas de trabalho que ele aceitou alguns em Londres e St. Petersburgo. Finalmente, ele foi atraído para voltar a Paris pela oferta de trabalho para o Serviço Militar francês.
Quase imediatamente depois da chegada dele em Paris, Sax começou a trabalhar na sua família de cornetas teclada. Tendo concebido o saxofone como um instrumento que combinaria os instrumentos de madeira com os de metal, pela produção de um som que descreveria propriedades de ambos, Sax submeteu-o a teste (o primeiro em conjunto) com as bandas militares francesas. A aceitação foi imediata. Em 12 de julho do mesmo ano, Sax é entrevistado por seu amigo Hector Berlioz, compositor e escritor do artigo, na "Paris Magazine" (jornal de debates), descrevendo sua nova invenção: o SAXOFONE: "Melhor que qualquer outro instrumento, o saxofone é capaz de modificar seu som a fim de lhe dar as qualidades convenientes, e de lhe conservar a igualdade perfeita em toda sua extensão. Eu o fiz em cobre, e em forma de cone parabólico. O saxofone tem boquilha com palheta simples como embocadura, uma digitação próxima à da flauta e à do clarinete, e podemos, se quisermos, colocar-lhe todas as digitações possíveis", diz Sax.
Em 1844, o saxofone é exibido pela primeira vez na "Paris Industrial Exibicion" e, no dia 3 de fevereiro do mesmo ano, Hector Berlioz esboça o arranjo do coral Chant Sacre , no qual inclui o saxofone.
"Nenhum instrumento que conheço possui essa estranha sonoridade situada no limite do silêncio", afirma H. Berlioz.
Ainda em dezembro desse ano , é apresentada a primeira obra original para saxofone, inserido na orquestra de George Kastner, "Opera Laster King of Judá" ("O Último Rei de Judá"), no Conservatório de Paris. Em 1845, Sax tirando vantagem da situação de que a banda de infantaria francesa possuía uma falta de qualidade, ele recomendou ao Ministro de Guerra que uma competição fosse feita entre uma faixa com instrumentos tradicionais e uma com os seus instrumentos. Ele refaz a Banda Militar, substituindo o oboé, fagote e trompas francesas por instrumento de sua invenção: saxofones, saxhorns em Bb e Eb, produzindo maior homogeneidade sonora; essa idéia foi um sucesso, e a faixa de sax subjugou a audiência. Dali em diante os saxes foram adotados na música militar francesa.
O saxhorn é uma espécie de instrumento de sopro feito de latão com embocadura de bocal e pistões que compreende o sopranino, soprano, contralto, barítono, baixo, contra-baixo (tuba), que funciona de forma análoga às tubas wagnerianas e às trompas de pistões. O seu formato é também muito semelhante ao das tubas empregadas por Wagner na "Tetralogia".
A tuba, que é um saxhorn baixo, munido de 4 ou até 5 pistões, constitui o único instrumento da família dos saxhorns em uso constante na orquestra sinfônica; os demais se restringem às bandas sinfônicas, militares e musicais no caso dos barítonos e contraltos.
O saxofone foi patenteado em 1846 incluindo 14 variações: Sopranino em Eb, Sopranino em F, Soprano em Bb, Soprano em C, Alto em Eb, Contralto em F, Tenor em Bb, Tenor em C, Barítono em Eb, Barítono em F, Baixo em Bb, Baixo em C, Contra-baixo em Eb e Contra-baixo em F.
Em 1858, Sax torna-se professor do Conservatório de Paris, onde começou a lecionar e propagar os ensinamentos do instrumento. O primeiro método para saxofone também foi atribuído a George Kastner (1846), e depois vieram os métodos de Hyacinthe Klosé (“Método Elementar Alto e Tenor” - 1877; “Barítono e Soprano” - 1879 e 1881).
Porém, Sax nunca ficou rico. Devido ao seu sucesso, os concorrentes, de olho nos lucros, lançaram uma tremenda campanha contra ele. Entre outros golpes, acusaram-no de ter roubado a idéia do saxofone, subornaram músicos para boicotar os seus instrumentos e fizeram com que os compositores deixassem o sax à margem das salas de concerto. Adolph sobreviveu aos ataques até que, em 1870, sua patente expirou e qualquer um pôde fazer saxofones. Sua fábrica então faliu. Duas vezes ele declarou bancarrota em 1856 e 1873. Muitos processos foram movidos contra ele e passou grande parte da sua vida em batalhas judiciais, gastando assim todo o seu dinheiro. Aos oitenta anos de idade e falido, três compositores se sensibilizaram (Emmanuel Chabrier, Jules Massenet e Camile São-Saens) e solicitaram ao Ministro francês de belas artes que lhe ajudasse. Uma pequena pensão foi dada, a qual lhe garantiu uma ajuda nos seus últimos anos de vida.                      


                                        

Kenny G. - Silhouette

                                                          
                                                          

domingo, 27 de maio de 2012

Piano

piano
História do Piano
Piano... Gravicembalo col piano e forte...

O piano foi inventado por um italiano, Bartolomeo Cristofori (1655-1731), no início do século 18 mas só vingou no final desse século ao ser usado por grandes músicos como Carl Philipp Emanuel Bach, Mozart e Beethoven.

gravicembalo de Bartolomeo Cristofori (Florença, 1720)

A diferença principal do piano em relação ao cravo – que era, então, o mais difundido instrumento de teclado – é que o piano tinha controle de dinâmica, ou seja, o executante poderia imprimir intensidade ao toque, variando do "piano", palavra italiana que significa "suave"; ao "forte", ou seja, o oposto.
Daí o nome do instrumento, "gravicembalo col piano e forte", que passou, posteriormente, a ser apenas conhecido como "piano".
Durante o século 18, porém, quando o piano ainda estava sendo aperfeiçoado, duas nomenclaturas foram usadas para designá-lo: "pianoforte" e "fortepiano"; e até hoje é comum elas aparecerem quando a referência é a pianos antigos ou suas réplicas.

Réplica de um fortepiano Jean-Louis Dulcken (Munique, c. 1795)

Portanto quando você ouve os termos "pianoforte" ou "fortepiano", estes estão referindo-se a um mesmo instrumento: o antigo piano, ainda de sonoridade frágil, sem pedais e de tessitura mais estreita. Há apenas uma exceção: na Itália, ainda é comum as pessoas usarem o termo "pianoforte" como sinônimo de piano, seja ele moderno ou antigo.


O PIANO E FORTE

O CRAVO, a ESPINETA e o CLAVICÓRDIO lutam para se fazer ouvir contra orquestras e salas cada vez maiores e com mais público. Numa época em que os construtores de instrumentos de cordas com teclas lutavam para melhorar as performances mecânicas e acústicas, não admira que por vezes surgissem inventos parecidos oriundos de locais completamente distintos. Foi o que aconteceu com Bartolomeo Christofori em 1707, Marius de Paris em 1716 e Christoph Schroter em 1717.
Em 1716 o construtor Marius de Paris realizou 3 modelos experimentais de mecanismos com martelos que pretendia aplicar ao cravo. As suas novas propostas foram, nesse ano, apresentadas à Academia de Ciências mas aparentemente nunca nenhum instrumento foi construído com esses novos sistemas, provavelmente porque um mecanismo com martelos, para ser eficaz, requer uma estrutura bastante diferente da do cravo ou do CLAVICÓRDIO, visto que necessita de cordas mais pesadas e muito mais tensas.

Um instrumento que já existia na época e que tinha capacidade de suportar a energia do martelo era o DULCIMER, instrumento muito simples, com uma estrutura muito resistente, suportando cordas metálicas de aço, pesadas e muito tensas.
No DULCIMER é o executante que segura os martelos nas mãos atacando as cordas directamente. Toca-se como se fosse um xilofone. Christoph Schroter, organista alemão, declarou que a ideia de um mecanismo com martelo lhe ocorreu depois de ouvir um enorme DULCIMER. Esse novo mecanismo era substancialmente diferente do sistema do cravo. A acção desenvolvia-se em torno de um eixo, com o martelo executando um movimento de rotação mais enérgico do que o movimento vertical do saltarelo. Este sistema teve duas variações: uma com o martelo por cima das cordas e outra com o martelo por baixo das cordas.

Maquinismos de Christoph Schroter. Um com ação de baixo para cima e outro de cima para baixo. O primeiro serviu de base para o sistema actual.

Apesar do espírito inventivo de Christoph Schroter, não se conhece nenhum instrumento construído por ele, aparentemente por falta de apoio do seu rei. Apesar disso, em Dresden no ano de 1724 foram construídos alguns que usavam o mecanismo concebido por Schroter.

Parece que em 1728 o alemão construtor de órgãos Gottfried Silbermann também constrói instrumentos com um mecanismo que pretendia ser um aperfeiçoamento do de Schroter. No entanto esse mecanismo tornava as teclas de toque muito rijo em comparação com o cravo. Bach terá condenado esse instrumento por ser muito difícil de tocar apesar de o considerar de sonoridade agradável.
Estes primeiros instrumentos não dispunham ainda de sistema de "escape". O "escape" é um sistema que permite que o martelo se afaste da corda logo após a pancada deixando que esta vibre livremente.
Os créditos do 1º instrumento completo e eficaz vão para Bartolomeo Christofori, de Pádua. Uma publicação datada de 1711 apresentava um desenho do mecanismo por ele inventado em 1707 e aplicado num instrumento a que deu o nome de PIANO E FORTE. Esse instrumento foi exibido em 1711 e tinha uma caixa parecida com a do cravo, em forma de asa, mas muito mais resistente para que pudesse suportar as cordas de aço, pesadas e tensas. Em 1720 Christofori completa o primeiro modelo "comercial". O mecanismo desse PIANO E FORTE já mostrava importantes melhoramentos em relação ao modelo de 1707: Tinha sido acrescentado o sistema de "escape", um sistema que regulava a queda do martelo e um abafador por cada tecla. Não tinha pedal. Era um mecanismo que permitia tocar desde o mais suave pianíssimo até ao fortíssimo, daí o nome que lhe foi atribuído.
Christofori faleceu em 1731 e não deixou outros seguidores além de Gottfried Silbermann, que copiou e deu seguimento às suas invenções.
O mais talentoso seguidor de Silbermann foi um jovem de nome Johann Andreas Stein, que tomou como base os desenhos de Schroter e criou aquele que passaria a chamar-se o mecanismo de tipo alemão ou vienense.
A grande época do desenvolvimento do PIANO E FORTE aconteceu entre o meio do Séc XVIII e o fim do Séc XIX. Foi também nessa fase que se começou a reduzir o tamanho, tentando passar do formato do tipo asa ou cauda, para os formatos verticais ou de mesa. Em 1745 C. E. Friederici construiu o primeiro PIANO vertical e cerca de 1758 o primeiro PIANO de mesa.
Este novo tipo (o de mesa) tinha uma caixa rectangular parecida com a do clavicórdio e as cordas eram colocadas no sentido do maior comprimento, paralelas ao teclado.
Ao longo desse período o nome PIANO E FORTE evoluiu para PIANOFORTE e depois para PIANO.
Em 1775 já havia construtores de PIANOS na Alemanha, em Inglaterra, França e América.


O PIANO DE MESA

Em 1765 Johannes Zumpe, ele também aluno de Silbermann, constrói em Londres o seu primeiro piano de mesa, com o formato muito próximo do clavicórdio mas também com o chassis reforçado para as cordas de aço e equipado com o novo tipo de mecanismo com martelos, abafadores, sistema de escape e pedal.
Em apenas 10 anos John Broadwood em Londres, Sebastian Erard em Paris e Beherend em Filadélfia, entre outros, apresentam também os seus modelos de PIANOS de mesa. Mas sendo todos eles de volume de som bastante mais fraco do que nos modelos de cauda.
Se não considerarmos o aumento do número de teclas e outros melhoramentos de menor importância, para se falar da evolução do PIANO de mesa teremos que nos virar para os Estados Unidos da América, onde este tipo de instrumento foi rei quase durante 100 anos. Em 1825 Alpheus Babcock, de Boston, inventou o chassis inteiramente de ferro e fundido numa só peça. Este terá sido eventualmente o mais importante melhoramento ao longo de todo o Séc XIX. Só com o novo chassis foi possível concretizar o desejo já antigo de aumentar o tamanho e a espessura das cordas e consequentemente o volume de som. Os antigos quadros de madeira não poderiam suportar a tensão das maiores cordas. O famoso construtor de Boston, Jonas Chickering, aperfeiçoou o chassis de Babcock e acabou por conseguir registar a patente em 1840.
A maioria dos construtores de Boston optaram pelo chassis de ferro fundido. No entanto em Nova Iorque, mais influenciados pelo estilo alemão, rejeitaram este novo invento argumentando que a sonoridade se tornava demasiado metálica, principalmente nas notas mais agudas. Sabe-se agora que esse timbre tinha a ver com uma deficiência das ligas metálicas então disponíveis e não com outros factores.
Na Exposição Mundial de Nova Iorque, em 1855, a firma americana Steinway and Sons fez sensação apresentando um piano de mesa com 85 teclas (7 oitavas), chassis de ferro fundido de um novo formato mais resistente para poder suportar o esforço das cordas também mais engrossadas das notas graves. As cordas eram montadas em posição cruzada o que permitia que num chassis dum determinado tamanho se montassem cordas mais compridas. Este modelo não fez sensação apenas por ser capaz de produzir mais volume de som e ter maior extensão de voz mas principalmente por ter sido ultrapassado o problema da sonoridade metálica e estridente nos agudos.
Depois do sucesso do modelo da Steinway todos os construtores americanos passaram a usar teclados de 85 teclas com chassis metálico de cordas cruzadas, o que veio a ser o novo standard na construção de pianos. Actualmente todos os pianos têm essas características mas, o teclado standard passou para 88 teclas.
Apesar do sucesso que se lhe reconhece, a Steinway and Sons não criou um produto "acabado". Antes do final do séc. XIX ainda iriam aparecer importantes melhoramentos. O piano de mesa da Steinway tinha uma característica importante que viria a ser completamente modificada apenas 10 anos depois pelo construtor americano Frederick Mathushek. Nos pianos de mesa o cepo das cavilhas ( peça de madeira onde são cravadas as cavilhas metálicas que servem para esticar as cordas fazendo a afinação ) era inicialmente colocado nas "traseiras" da caixa, do lado oposto ao teclado. Essa característica dificultava imenso o trabalho do afinador visto que num instrumento daquelas dimensões era muito difícil ter uma mão no teclado e outra na zona do cepo. Frederick Mathushek inverteu todo o sistema e colocou as cavilhas logo junto ao teclado sem alterar o timbre do instrumento. Este melhoramento é considerado um dos mais geniais da evolução do piano de mesa.
Depois de 1867, ano da Exposição de Paris, os líderes da industria americana, confrontados com o sucesso do piano vertical na Europa, dedicaram-se ao desenvolvimento deste tipo de instrumento que apresentava a enorme vantagem de ocupar bastante menos espaço. Os últimos pianos de mesa americanos foram fabricados no ano de 1880.



O PIANO VERTICAL

Depois de C. E. Friederici em 1745 e das experiências de Stein e outros, parece que só em 1780 aparece outro piano vertical, pela mão de Johann Schmidt de Salzburgo. Em 1800, nos Estados Unidos, John Isaak Hawkins constrói também um piano vertical com as cordas paralelas, sistema de escape, sistema de controle da descida do martelo ( atrape ) e outras novidades (não tinha pedal). Apesar do mecanismo bastante avançado, não fez sucesso por ter uma sonoridade muito desagradável.
O atrape ( do francês - attraper - segurar) - Este sistema impede que o martelo ao cair transmita impulso à tecla, o que seria sentido pelo executante.
Em 1807 William Southwell, de Londres, aparece com um pequeno piano vertical em que as cordas eram montadas na diagonal mas colocadas totalmente para cima do teclado e não atrás deste, como era habitual. Tinha apenas uma extensão de voz de 6 oitavas, de Fá a Fá.
A popularidade do piano vertical na Europa disparou em 1826 quando um construtor de nome Wornum, desenvolveu um mecanismo que combinava precisão com durabilidade. Esse novo mecanismo permitia repetir a mesma nota com maior velocidade. Ignace Pleyel, de Paris, adoptou e aperfeiçoou esse mecanismo, que passou a chamar-se a ostentar o seu nome. O sucesso foi tão assinalável que se tornou extremamente difícil vender pianos de mesa na Europa.
O mecanismo Pleyel é actualmente usado em todos os pianos verticais, tendo sido introduzido apenas um melhoramento importante: no fim do séc. XIX os abafadores passaram a ser colocados abaixo dos martelos, o que os torna muito mais simples e eficazes. No entanto no início do séc. XX muitos fabricantes ainda colocavam os abafadores por cima dos martelos.
Na Alemanha o fabrico de pianos verticais começou a aumentar cerca de 1835, ao mesmo tempo que diminuía o número de pianos de mesa. Estes deixaram de ser construídos em 1860, Vinte anos mais cedo que nos Estados Unidos.
Os pianos alemães do fim do séc. XIX eram maiores e muito mais pesados do que os pianos franceses e ingleses. Enquanto nestes dois últimos países se continuava a construir pianos com chassis de madeira os alemães, influenciados pelos americanos, já os construíam em ferro, com cordas cruzadas e com 3 cordas por cada nota. Já atrás se referiu que o sistema de cordas cruzadas permite que, na mesma caixa, estas sejam mais compridas do que no antigo sistema de cordas verticais e paralelas. Esses pianos tinham mais e melhor sonoridade e robustez do que os seus contemporâneos. Tinham também uma sonoridade muito aperfeiçoada mas o toque ( sensibilidade do teclado ) era bastante inferior ao dos melhores pianos de mesa americanos. Apesar disso nessa época os pianos verticais alemães monopolizavam o mercado europeu.
No fim do Séc XIX os construtores americanos de pianos verticais usavam mecanismos mais complexos, mais caros e de toque menos agradável do que os alemães. A pouco e pouco todos eles copiaram o sistema mais vantajoso.

Apesar da notável evolução do piano vertical este continua a apresentar alguns problemas de difícil solução, tanto a nível mecânico como acústico. O facto das astes dos martelos estarem em posição quase vertical dificulta a recuperação da posição de repouso. O movimento de retorno do martelo não se faz totalmente por acção da gravidade mas sim auxiliado pela acção de uma mola e de uma fita de tecido. Por outro lado o sistema de escape é um mal necessário. Como este também depende de uma mola, contribui para que o toque se torne menos agradável. A tecla, ao ser mais curta do que no piano de cauda, também tem menos flexibilidade, o que torna o toque menos dinâmico.
No entanto não deve entender-se que o piano vertical é uma invenção infeliz. Actualmente, nos modelos de boa qualidade, os defeitos que ainda persistam estão bastante minimizados. Se deixarmos de lado os modelos mais pequenos, de sonoridade menos cheia, pode dizer-se que a generalidade das marcas apresenta produtos muito aceitáveis e de grande duração.
O sucesso do piano vertical deve-se à diminuição de dois factores importantíssimos, embora ambos com influência directa na qualidade: tamanho e preço. Em plena revolução industrial, a máquina a vapor abriu as portas à produção em grande série a custos mais reduzidos, permitindo fazer face à crescente procura.
Pleyel, juntamente com Sebastien Erard, beneficiou de um golpe de oportunidade. Os seus aperfeiçoamentos no mecanismo do piano vertical coincidiram com o início da construção de prédios de apartamentos. No início do séc. XIX a cidade de Paris estava de tal modo congestionada que a alternativa foi construir daquela forma, com pequenas divisões e com escadas onde dificilmente caberia um piano de cauda ou de mesa.
Quando a crise da falta de espaço começou a afectar outras cidades europeias os potenciais compradores de pianos verticais aumentaram de número e os construtores alemães e ingleses optaram por seguir as pisadas de Pleyel e de Erard. A marca Pleyel ainda hoje existe embora tenha sido vendida pelos herdeiros em 1934 e tenha passado já por vários proprietários. O mesmo aconteceu à marca Erard. Desde 1971 ambas estão associadas à Schimmel, fundada na Alemanha em 1885. A japonesa Yamaha, fundada em 1887, também está associada a esse fabricante.
Nos E. U. A. só cerca de 1880 é que começam a crescer os primeiros prédios de apartamentos, o que justifica o atraso de popularidade do piano vertical.


O PIANO DE CAUDA

O formato em forma de asa ou cauda parece ter sido usado pela primeira vez em 1521 e tem sido sempre o formato preferido dos construtores preocupados em produzir instrumentos de teclas e cordas de alta qualidade, por ser capaz de produzir mais e melhor som que os outros formatos.
Este formato é o que usava nos cravos e pianofortes. É o que permite um melhor relacionamento entre o executante e as cordas. O facto de ser um sistema "tudo em linha" torna mais natural o funcionamento do mesmo, sem necessidade de recorrer a artifícios de menor eficácia. Ao contrário do que acontece no piano vertical, o teclado, os martelos, atrapes, abafadores e cordas trabalham num alinhamento perfeito, tudo na horizontal e sem necessidade de transferências de energia para outras direcções. Todos os retornos acontecem por força da gravidade, sem necessidade de quaisquer molas, excepto no caso do escape, que usa uma mola muito simples e que passa quase despercebida.
Tal como o cravo, também o piano de cauda teve que resistir aos "sofrimentos" infligidos por alguns inventores já tocados pelo espírito da "one man band" e dos actuais sintetizadores. Numa publicação de 1796 aparece a descrição de um piano construído pela fábrica Still Brothers da Boémia. Segundo essa descrição a dita máquina tinha formato de cauda, com cerca de um metro de altura e 2,5 metros de comprimento ( enorme ! ), 230 cordas, 360 tubos e 105 efeitos tímbricos. Tinha também dois teclados e 25 pedais que serviam para controlar os efeitos sonoros. Esse instrumento pretendia imitar flautas de vários tipos, alaúdes, fagote, assobio, clarinete, corne inglês e outros. Dispunha ainda de triângulos, pratos, diversas peles, etc.
São conhecidas também as "pianolas" americanas do início do séc. XX, que funcionavam com um sistema mecânico de ar comprimido ou de manivela que fazia a leitura em rolos de papel perfurado e os pianos de teatro, com efeitos bizarros e que eram utilizados para acompanhar os filmes de cinema mudo.
Os músicos sérios rejeitaram estas e outras propostas, certamente interessantes pelo ponto de vista de inventor, mas menos relacionadas com a verdadeira expressão artística.
Para por em acção um conjunto de cordas de aço, compridas, grossas e muito tensas foi necessário aumentar a velocidade e a resistência dos mecanismos existentes. A grande intensidade de som dum piano de cauda depende da interacção entre o mecanismo e as cordas e entre as cordas e o tampo harmónico. O tampo harmónico do piano equivale ao tampo de uma guitarra ou violino, tem como função aproveitar o movimento da corda para ele próprio se movimentar pondo em movimento uma maior massa de ar do que a corda só por si, produzindo maior impacto no tímpano e no ouvido interno.
Durante anos alguns mestres alemães e ingleses trabalharam no assunto mas um dos primeiros construtores a resolver o problema e fabricar um produto satisfatório foi o já referido Sebastien Erard, de Paris, cerca de 1775. O seu piano de cauda tinha chassis de madeira e só uma outra versão datada de 1823 aparece reforçada por um conjunto de 6 barras de ferro longitudinais. Outro dos construtores com sucesso foi o inglês John Broadwood que apresenta o seu primeiro piano de cauda em 1781. Parece que o chassis de ferro fundido numa só peça aparece em 1820 pela mão dos construtores Allen & Thom, de Londres. Tal como no piano de mesa e no vertical o desenvolvimento foi contínuo e envolveu um grande numero de fabricantes e de novas ideias. Algumas delas foram aplicadas simultaneamente em todos os tipos de pianos.
Entretanto Johann Andreas Stein e a sua filha Nannette Stein - Streicher, dedicaram-se ao aperfeiçoamento do maquinismo de Schroter por terem constatado que os pianofortes por ele construídos a partir de 1780 foram os preferidos por Mozart, Beethoven e outros. Talvez a principal razão fosse a de que esse sistema tinha um toque mais elástico que os pianos de Christofori e produziam uma sonoridade mais agradável, menos agressiva, lembrando vagamente os clavicórdios. No mecanismo de Stein o martelo percorria uma distância maior desde a posição de repouso até à corda e a flexibilidade da aste do martelo diminuía a violência da pancada. Esses dois elementos, flexibilidade e sonoridade, deram-lhes a supremacia na Alemanha, Áustria e Itália durante muitos anos.
Em 1821 Pierre Erard, sobrinho de Sebastien, regista em Inglaterra uma patente a que deu o nome de "duplo escape". Este novo sistema permite uma maior velocidade de repetição da nota. A grande fama do nome Erard deve-se a essa invenção muitas vezes, erradamente, atribuída a Sebastien. Em 1838 Pierre dá de novo nas vistas com um novo sistema de fixação das cordas: o capo tasto. Actualmente também usada por todos os fabricantes, o capo tasto é apenas uma barra de latão colocada sobre as cordas, logo abaixo das cavilhas e que as pressiona contra o chassis evitando que acidentalmente mudem de posição por acção das pancadas mais violentas. Também melhora a sonoridade. É um sistema mais simples do que os agrafes, também inventados por Pierre.
Entretanto os construtores americanos também trabalhavam no assunto. Em 1825 a Loud Brothers apresenta um piano de cauda com 88 notas em vez das 85 do piano de mesa da Steinway & Sons. O também famoso Jonas Chickering patenteou o seu chassis de ferro para piano de cauda em 1843. Só em 1859 (4 anos depois do seu piano de mesa) a Steinway apresenta o seu piano de cauda com chassis monopeça reforçado e cordas dispostas em posição cruzada.
Depois da Expo de Londres em 1862, os construtores alemães e Austríacos adoptaram a sistema americano enquanto os ingleses e franceses se mantiveram fieis ás cordas paralelas e chassis reforçado com barras de ferro durante mais alguns anos.
Em Inglaterra os mestres carpinteiros conseguiram modificar o formato da cauda do piano eliminando os cantos angulosos para adoptar a forma arredondada que se usa actualmente. Em vez de tentar dobrar uma tábua para fazer as curvaturas, tarefa impossível naquela época, optaram por usar pequenas peças de madeira que eram coladas umas ás outras logo no formato arredondado que se pretendia.
O piano de concerto de hoje pode-se considerar um modelo de perfeição tecnológica e acústica. Desde o final do séc. XIX que a pouco e pouco se foi libertando de todas as invenções menos felizes e se tornou numa reunião das melhores ideias dum grande número de mestres construtores. Actualmente a evolução tem sido mais na área da escola dos materiais de construção do que propriamente na evolução dos sistemas, já muito aperfeiçoados. Tem a caixa construída em contraplacado do tipo marítimo, isto é, com as lâminas todas da mesma espessura, sem nós ou uniões em cada placa e colado com cola à prova de água. A construção em contraplacado torna-se mais sólida do que em madeira do tipo "tábua".
Algumas peças do mecanismo podem ser de plástico, sem qualquer influência na qualidade do som. Usam-se também materiais modernos tais como os alumínios para os chassis do mecanismo, parafusos inoxidáveis, colas à prova de água, etc.
O chassis de um piano de concerto moderno suporta uma tensão vizinha das 30 toneladas.
O tamanho de um piano moderno de concerto ronda os 2.70 metros e tem 88 notas. A Ludwig Bosendorfer, de Viena, constrói um modelo com 97 teclas, 2.90 metros de comprimento e a módica quantia de 750 kilos. É o Bosendorfer Imperial, por muitos considerado o melhor piano do mundo.
Actualmente fabricam-se pianos de cauda com comprimento a partir de 1.50 metros. Para uma sonoridade cheia e interessante são necessários pelo menos 1.70 metros. Para se fazer ouvir numa grande orquestra usam-se os maiores modelos, com comprimentos que podem chegar aos 2.90 metros.


Bibliografia:

Pianos and their Makers - Alfred Dolge. Edição de 1911
Dicionário de Musica - Arthur Jacobs. Edição de 1977
Música no Tempo - James Galway Edição de 1982
Pierce Piano Atlas - Bob Pierce - Edição de 1997
 
Mais história
As origens do piano (instrumento de cordas percutidas) são mais recentes do que as do Cravo (instrumento de cordas beliscadas). Pelo menos não se conhece nenhum instrumento de cordas percutidas anterior à Idade Média.
O «saltério» medieval pertence às duas famílias: à do piano e à do cravo. Originário do Oriente, surge pelo séc. XII e compõe-se de uma caixa de ressonância triangular ou trapezoidal munida de sete a dez cordas que se beliscam com os dedos (donde a sua denominação que designava, para os gregos, todos os instrumentos tocados com os dedos e não com o plectro). Mas a partir da segunda metade do séc. XIV imaginou-se percutir as cordas com pequenos martelos, estando o instrumento pousado numa mesa. Na mesma época apareceu o echiquier: é um saltério munido de um teclado, cujas teclas accionam pequenos martelos. Mencionado por Guilherme de Machaut antes de 1377, o echiquier, muito difundido em França, na Inglaterra e na Espanha até ao séc. XVI é o mais autêntico antepassado do nosso piano.
A partir do séc. XV, uma grande variedade de instrumentos procedendo do saltério de cordas percutidas espalhou-se pela Europa sob a denominação de tympanon (muitas vezes tomado como termo genérico), doucemère. doucemelle, doulcimer, cymbalum, etc... Alguns utilizando varetas com a extremidade em forma de colher com que se percutem as cordas; outros são munidos de um teclado e de um mecanismo engenhoso graças ao qual o martelo recai sobre si, mesmo depois de ter percutido a corda, evitando, assim, abafar o som (princípio de escape que só foi reencontrado por Érard dois séculos mais tarde).
Do aperfeiçoamento destes instrumentos nasceu o Clavicórdio cuja primeira descrição precisa data dos finais do séc. XV. Tão antigo quando a espineta e os outros instrumentos da família do cravo, o clavicórdio não deve ser confundido com o piano. É um outro instrumento, cujas cordas (dispostas paralelamente ao teclado) são feridas segundo um dispositivo que permite ao mesmo tempo dividi-las, estando cada corda destinada a várias notas: o clavicórdio, diz-se então que é «ligado».
O elemento percutidor, pequena peça chamada tangente, está cravada sobre as caudas das teclas e percute num ponto determinado de divisão da corda. O mais antigo clavicórdio que se possui, data de 1543; está dotado de um teclado de quarenta e cinco teclas para vinte e duas cordas duplas (afinadas por pares a uníssono); até ao séc. XVIII, época da supressão das últimas cordas «ligadas» o gebundenes Clavichord comportará menos cordas (ou pares de cordas) que teclas.
O instrumento apareceu em França no séc. XVI com o nome de «manicórdio» que estava ainda em uso no séc. XVII. Muito difundido na Alemanha nos sécs. XVII e XVIII, não foi suplantado pelo piano senão quando este pôde compensar o inconveniente dum estorvo e dum peso acrescidos por um aumento muito sensível do volume sonoro. No seu Versuch über die wahre Art das Klavier zu spielen (1753), C.P.E. Bach compara as qualidades do órgão, do cravo, do clavicórdio e do «piano-forte», que ele nos apresenta como os instrumentos de acompanhamento mais difundidos do seu tempo.
Sob o ponto de vista pedagógico, ele pensa que o clavicórdio tem maiores qualidades do que o cravo e o novo piano-forte: no clavicórdio, com efeito, a simplicidade da mecânica põe o intérprete em contacto directo com a corda; ela permite-lhe ligar melhor a expressão à dedilhação e executar até um certo vibrato (Bebung). Hoje, não somos obrigados a partilhar esta preferência; mas é interessante observar a coexistência, por meados do séc. XVIII, do cravo, do clavicórdio e do piano, que não ilustram, como muitas vezes se julga, as etapas sucessivas de uma evolução ligada à ideia de progresso.
O inventor do piano é verdadeiramente Bartolomeo Cristofori que construiu em Florença, por volta de 1710, o seu primeiro Gravicembalo col piano e forte. Os seus instrumentos utilizam uma mecânica que os aparenta mais ao actual piano do que ao clavicórdio. Mas, as realizações de Cristofori não ultrapassaram as fronteiras da Itália e foi ao saxónico Silbermann que coube o mérito de ter desenvolvido e propagado a fabricação do novo instrumento. Este, contudo, levou bastante tempo a obter a predilecção dos músicos. J.S. Bach, em particular, era bem pouco favorável aos instrumentos de Silbermann e parece que os seus contemporâneos e os seus sucessores imediatos foram, se não hostis, pelo menos indiferentes.




De uma forma geral, pode considerar-se que a era do piano só começa por volta de 1765-1770 (época das primeiras sonatas de Haydn): salvo muito raras excepções, todas as composições para teclado anteriores a esta época eram destinadas ao órgão, ao cravo ou ao clavicórdio. A partir de 1773, o fabricante inglês John Broadwood aperfeiçoa consideravelmente a mecânica Cristofori Silberman e, em 1769 e 1823, o francês Érard inventa a mecânica dita «de escape», depois o «duplo escape» assente no princípio sobre o qual são construídos os pianos modernos. Esta mecânica permite uma maior precisão no ataque e torna possível as repetições rápidas, evitando que os martelos funcionem como abafadores sobre as cordas. A bem dizer a ideia não era nova: certas variedades de tímpanos do séc. XVI e os instrumentos de Cristofori estavam, desde 1726, equipados com mecanismos análogos. Mas a habilidade e a regularidade de funcionamento da mecânica de Érard, tinha feito deste grande fabricante o verdadeiro criador, com Broadwood, do piano moderno. Os aperfeiçoamentos ulteriores não tinham sido mais do que aperfeiçoamentos de pormenor: invenção do piano vertical (Inglaterra, 1807), da armação metálica (Estados Unidos da América, 1825), do princípio das cordas cruzadas (1832, U.S.A.), revestimento dos martelos com feltro, ampliação do teclado, etc.
O piano compõe-se essencialmente de uma caixa de ressonância ou «caixa de harmonia» em pinheiro alvar, montada sobre um madeiramento chamado «barrage». As cordas são esticadas sobre um cavalete colocado nesta caixa e são fixadas num dos lados por um suporte de sustentação e no outro por um suporte com cravelhas; nos pianos mais antigos estes suportes eram de faia ou de ácer, mas os pianos modemos são providos de uma armação de ferro fundido, duma só peça, substituindo os dois apoios de sutentação e a «barrage».
As cordas, triplas excepto no grave, exercem sobre a armação uma tensão na ordem das vinte toneladas! Cada uma das teclas (em tília recoberta de marfim ou de ébano para as teclas pretas) comanda um martelo e, simultaneamente, um abafador por intermédio de um mecanismo que seria moroso descrever.
Os dois pedais, impropriamente chamados pedais «suave» e «forte», têm funções de natureza muito diferente e podem ser empregados cada um deles em expressão de piano ou forte. a pedal da esquerda (que se indica na escrita por una corda) desloca ligeiramente toda a mecânica para a direita de maneira que cada martelo não percute mais do que uma ou duas cordas de um grupo: o som torna-se mais suave, menos timbrado. O pedal da direita levanta todos os abafadores: as cordas percutidas continuam então a vibrar mesmo depois de as mãos deixarem o teclado e, assim, várias outras cordas vibram suavemente por simpatia. A extensão do piano é actualmente sete oitavas e um quarto ou seja do Lá-7 (na primeira oitava de um jogo de órgão de 32') ao dó7 (tubo de uma polegada e meia). Certos fabricantes prolongaram a extensão para o grave até ao Fá ou ainda até ao DÓ=2.
A música para piano, de Haydn até aos nossos dias é de tal maneira abundante e tão bem conhecida, graças a uma infinidade de gravações excelentes e de recitais quase diários, que qualquer escolha de exemplos seria supérflua e, necessariamente, injusta. Assinalaremos apenas, o interesse histórico e documental do disco-recital de Wanda Landowska e Aldo Ciccolini (Columbia), reunindo interpretações de cravo, de clavicórdio (o de Mozart) e de piano (forte-piano de 1790 e piano de Chopin) assim como gravações das marcas Archiv e Hamonia Mundi em «piano-forte» antigo.

Richard Clayderman - Dolannes Melody